Desamparado, me desliguei desse lugar por várias semanas. As palavras, antes fáceis, parecem ter evaporado, fugindo do meu alcance quando eu mais precisava delas para expressar meus pensamentos. Meus pensamentos, por sua vez, se dissolveram quando perdi pessoas amadas… e, em meio ao caos, perdi a mim mesmo.
Costumamos ouvir que os mares turbulentos fazem bons marinheiros. Contudo, nem sempre isso é verdade. Às vezes, a tempestade é mais forte do que podemos suportar.
Imaginamos que temos as rédeas da vida firmemente em nossas mãos, que podemos controlar tudo ao nosso redor. Na realidade, porém, somos apenas capazes de controlar nossos sentimentos – e mesmo assim, como um equilibrista percorrendo a corda bamba entre dois picos de montanha, nosso domínio é frágil e assustador.
Perdi meu foco, e por alguns sombrios dias, até a vontade de viver pareceu não existir. A vida perdeu o brilho, suas cores desbotando até o cinza mais pálido. Sentimentos que antes eram vivos e vibrantes, caiam no chão, secos como as folhas do outono.
Me agarro a qualquer fio de esperança, qualquer resquício de otimismo que poderia, talvez, me guiar para um caminho melhor. Mas tal esperança é efêmera, evaporando tão rapidamente quanto surge, porque as perdas foram maiores do que eu podia suportar. Perdi uma amiga, um amor, em um único e cruel momento, tudo por falta de coragem para enfrentar meus medos. Assim, a minha existência aqui pareceu perder o sentido pela minha própria inércia.
Os remédios que outrora foram minha cura, agora são meu ópio, e meus sonhos, antes límpidos, estão agora turvos como o vidro de um carro em meio a uma tempestade impiedosa.
Peço a Deus que não me abandone neste momento de desolação, que me conceda a coragem que sempre me definiu, para poder fazer o que é necessário.
Já perdi tanto… e o medo de continuar a perder faz de todas as noites, pesadelo.