Hoje eu posto do hospital enquanto espero a Ale receber medicação depois de uma madrugada de sofrimento para expelir o embrião. Para ela, sem sombra de dúvidas, a dor foi muito pior pq além da dor psicológica, a dor física parecia insuportável – e era, onde ela mesma classificou como 10/10. Para mim, a dor foi puramente psicológica pela perda e pela impotência. Eu fiz tudo o que pude e suportei ela durante o processo todo. Nunca imaginei que expelir um embrião a fizesse perder tanto sangue, então enquanto ela ficava no chuveiro eu limpava o estrago do processo pela casa.
Eu não sei como é o inferno, mas tenho absoluta certeza que hoje experimentei um pouco do que pode ser na alma. Ver a dor e o sofrimento nos outros para mim talvez seja a pior tortura. Eu preferia que fosse em mim. A médica fez questão de me mostrar o embrião que ela tirou de dentro da Ale e eu acho que foi bom, apesar de forte. Entender visualmente faz parte do meu processo.
Ao menos acho que acabou. Não tem mais o que doer depois de uma madrugada tão dura como essa. Não tem mais sofrimento para espremer depois de tanta tortura. O pós ápice parece um lugar tranquilo sem mtas emoções. Aqui, sentado, esperando ela receber a medicação, depois de experimentar um pouco do que o inferno pode ser, acho que é impossível não se sentir anestesiado.