O relógio aponta 5:40 e o sono me escapa. A inquietude ressoa como um aviso espiritual de que algo está em desalinho. Não é por preocupação exacerbada, é porque dói constatar que algo se perdeu. O tempo é inexorável. Cada trilha escolhida determina se ele será nosso cruel carrasco ou generoso aliado. O tempo traça a fronteira entre a vitória e a derrota, entre o êxito e o fracasso. Todos temos nosso próprio tempo e cada jornada segue seu próprio cronograma. Tudo tem seu momento para acontecer…ou não.
O meu tempo se esgotou, e a cada batida do relógio que me recorda a passagem do tempo, persisto na esperança de uma saída. Meu otimismo incorrigível e meu amor incondicional me levam a acreditar que tudo é possível quando há fé, determinação e muito…mas muito esforço. A vida tem me ensinado com o tempo que nem sempre isso é suficiente para concretizar nossos sonhos e desejos, e este é o saldo devido por decisões mal tomadas.
O tempo tem me ensinado que nem sempre precisamos formular perguntas para obter respostas. Nem sempre necessitamos de respostas explícitas para fazer uma escolha ou tomar uma posição. Expressar meus sentimentos, aqui e em outros lugares, foi ao mesmo tempo alívio e carga, pois o amor verdadeiro é a emoção mais sincera que se pode ter, mas o amor não correspondido pode ser tão doloroso quanto uma lâmina quente rasgando a alma. Não amo na expectativa de ser correspondido. Se o amor dependesse de reciprocidade, Deus já teria desistido de nós há muito tempo. Isso não significa que Deus não sinta tristeza com a ausência do nosso amor, ou que não se irrite com nosso egoísmo.
Não tenho mais sentido a presença dela. Dentro de mim, nos meus pensamentos, sonhos e coração, ela permanece intacta como uma joia de validade eterna e inquebrável. Na minha vida, porém, sinto sua ausência. Por mais que tente trazê-la de volta, existe hesitação. Não sou hipócrita a ponto de negar que há motivos para isso. Também não sou insensível para não perceber que essa hesitação se manifesta em outros âmbitos, como um sinal. Podemos expressar nosso amor de várias maneiras. Nos gestos, no carinho, no cuidado, na disponibilidade, na honestidade e na importância que se atribui a cada gesto e a cada momento vivido com o outro. Meu espírito leonino, talvez um pouco autoindulgente, sabe que até agora, fui impecável nesses aspectos. Não faltaram gestos, carinho, cuidado, disponibilidade, honestidade e importância…e isso nunca foi suficiente. Resta apenas expressar com palavras e dimensionar o que talvez só se possa perceber nos olhos e na poesia. Para isso existe uma hesitação que não é minha. Há muito ruído, e há outras opções à disposição. Há algo obstruindo a clareza que eu queria ver, como se houvesse algo em primeiro plano…e eu não vim para ser plano de fundo.
Quando observei o tempo que se passou e toda a construção feita tijolo por tijolo, das mensagens singelas aos grandes eventos, decidi expurgar da minha vida aquilo que estava me consumindo e que talvez tenha destruído essa história – por culpa de minhas próprias decisões equivocadas, diga-se de passagem. Reconhecer isso já é uma grande vitória. Pode-se passar a vida inteira à espera de um grande amor, e quando finalmente o encontra, você o acolhe, não com a intenção de aprisionar, mas com o desejo de compartilhar corpo e alma. Não há tempo a desperdiçar quando temos certeza de algo. É neste lugar em que me encontro e é também onde anseio estar. Que o tempo me auxilie nesse paradoxo.