Subi no terraço para olhar as poucas estrelas que aparecem no céu de São Paulo em uma noite clara como essa – adoro olhar o céu, as estrelas e a Lua sempre que consigo. Aproveitei para colocar o Lino na caixa d’água pq ele adora ficar sentado lá olhando e cheirando os aromas que o vento traz. Desde pequeno a gente tem esse ritual noturno de ficarmos acordado na companhia um do outra um pouco antes de dormir. Eu olhando as estrelas e as luzes da noite e ele cheirando e prestando atenção nos movimentos da rua. A gente se conecta ali – eu e o meu melhor amigo. O cara que dorme comigo todos os dias e que nunca rosnou, nem mordeu, nem fez nada de mal há ninguém.
Eu precisei muito dele esses dias para aceitar que tenho que ser realista com as coisas e vestir a minha armadura para me proteger. Eu preciso proteger meu coração das frustrações que eu vivo por conta das expectativas que eu tenho. Eu preciso vesti-la antes de entrar em um campo de batalha. Essa situação da minha mãe é uma guerra que não tem data para acabar, e tenho também outras batalhas acontecendo em outros aspectos da minha vida.
Hoje com minha mãe foi um dia muito difícil. Eu que absorvo muita energia fiquei destruído quando voltei para casa porque chegamos 7:20 no AC e saímos às 13:00. Minha mãe não estava bem: Não comeu, não falava, não ria e estava assustada. Tive que passar por todos os atendimentos por ela – aquela chatisse de abrir ficha e assinar um monte de papéis – pq ela não tinha condições.
Nessas horas eu preciso ser o pilar que sustenta ela e hoje estava particularmente difícil pq não conseguia ver ela reagia a nada do que eu fazia.
Depois de 3 horas esperando, ela entrou para o PET CT e eu tive duas longas horas para refletir sobre muitas coisas. Trabalhei boa parte desse tempo, mas em algum momento fiquei puto, fechei o notebook e comecei a ouvir música de olhos fechados. Percebi que estava com muita raiva dentro de mim e não é um sentimento que eu me orgulho. Eu tenho raiva de estar frustrado, pois frustração é um dos sentimentos que eu mais abomino. Estou frustrado com a situação da minha mãe. Estou frustrado por não ser claramente prioridade na vida das pessoas que priorizo. Estou frustrado por estar cansado e querer fazer mais coisas do meu dia, mas sempre ser pego de surpresa por um imprevisto – normalmente relacionado a minha mãe. Estou frustrado por me sentir sozinho.
Percebi que eu vou ao encontro das pessoas e nunca elas vem ao meu encontro a não ser quando há algum tipo de interesse – o que normalmente é para além de estar comigo. É extremamente cansativo ser o que provoca o tempo todo para que as coisas se movimentem em alguma direção. Além de consumir uma energia imensa e eu me sentir um pé no saco, ainda lido com a frustração de quase sempre ser uma energia mal gasta. É assim com a minha mãe quando fico tentando achar soluções para os problemas dela e ela não segue. Com meu irmão quando tento aliviar as coisas dele e ele se acomoda, com as pessoas que eu gosto quando tento propor algo…e por aí vai. Tudo tem a ver com o meu maior defeito: achar que as pessoas enxergam o que eu enxergo, pensam como eu penso e vão me priorizar.
Sei que o tom do texto parece amargurado, mas é mais um desabafo do que algo que vou carregar: amanhã encontro um meio de extrapolar tudo isso. Mas por hoje vou ficar aqui com meu melhor amigo e um pouco dessa raiva de mim mesmo. Amanhã passa.