Por muito tempo a espada chinesa foi apenas um complemento dos meus treinos: um artefato bonito, mas que eu particularmente não via sentido prático nos movimentos por conterem cortes menos ‘secos’ do que o facão chinês – esse sim uma arma bruta.
O facão chinês, por sua vez, corta de forma voraz e possui movimentos explosivos com saltos, rolamentos e até mesmo pancadas com o handguard da arma – e ela sempre foi minha favorita até HOJE.
O momento que estou vivendo na minha vida pessoal começou a refletir na forma como encaro o treino, e hoje finalmente eu pude entender a espada chinesa: uma arma que atende ao chamado do quadril e flutua como um poema é escrito com pincel e nankin. Os cortes, sempre buscando as articulações, tendões e pontos vitais do oponente, são precisos como os rabiscos de um ideograma, e a espada apenas obedece aqueles que tem controle daquilo que expressam com o corpo. É de longe a arma mais complexa que pude entender nesses mais de 15 anos de wushu.
Pedi ao meu Sifu que me mostrasse outra forma da espada: algo que nunca havia visto antes. Ele me mostrou uma forma que começou de forma horrorosa, fazendo uma especie de ciscada de galinha com os pés, mas depois de alguns segundos a forma foi mudando e ganhando os movimentos mais lindos que já vi – sim, eu sou emocionado, me deixe. A forma termina de maneira fulminante e eu perdi o fôlego só de olhar.
Quando terminou, eu como bom curió, perguntei o que era aquela ciscada estranha e meu Sifu me explicou: é o simbolo de Yin e Yang no chão. Se faz aquilo para levantar poeira ou terra do chão e dificultar a visão dos oponentes. O nome da forma: Espada Névoa circular.
Pode parecer besteira mas eu consegui enxergar cada momento em que a forma usava as pernas para levantar a poeira enquanto a lâmina escrevia sua poesia em forma de cortes na parte de cima, quase como uma dança perfeita em um ritmo que é lindo e fatal.
O caminho da espada é o nosso caminho porque sempre vai terminar em morte. A função da espada é trazer a morte, que é o fim da nossa caminhada. Nos resta é escolher se usaremos nossa espada para o bem ou para o mal. Se vamos viver para proteger ou assassinar, seja lá o que isso signifique para você.