Tem dias que existem para serem lembrados como dias que nunca deveriam ter acontecido mesmo que a realidade escancare que é impossível reverter o passado e que nos da de consolação, no máximo, sermos melhores agora ou no futuro.
Dias em que a lógica e a razão nunca vão te entregar respostas: elas são o que são dentro das mais loucas coincidências e criam essa montanha russa de sentimentos diante de uma adversidade que está muito além daquilo que já lidamos antes. Entregamos nas mãos de Deus, de forma meio amargurada, por não ter nenhuma resposta para os grandes “por quês”. É o que é.
As vezes, erguer a cabeça e seguir em frente não é questão de força, mas sim de falta de opção: O que me resta depois de entender que o meu maior sonho ser interrompido de forma espontânea pela natureza ?!
Sempre imaginei ao longo da minha vida ser pai. Por admirar demais a criação que meu pai me deu e pelo desejo de refleti-la, com meu jeito de ser, em uma outra vida gerada por mim. Desde que tenho 20 e poucos anos esse era o meu sonho máximo e tudo que fiz e construi até hoje foi para preparar o terreno para estar pronto para esse evento.
Apesar de o meu casamento não estar vivendo seus melhores dias, a vinda de um bebê certamente dominou meus pensamentos ao longo desse quase 1 mês pois é o evento mais maravilhoso da vida de qualquer homem.
Dentro do meu sonho, porém, não tinha espaço para uma dose de realidade: Não cabia “perder” meu filho. “Perder”, entre aspas, pois Deus mandou apenas um lampejo de vida. O suficiente para me animar, me emocionar, me assustar e agora, me destruir.
Não era para ser, e não foi. Não adianta eu tentar achar um culpado ou me culpar. Ninguém tem culpa, nem mesmo Deus. É só a tristeza que não consigo segurar.
Ver o ultrassom vazio, escuro, sem vida, foi alfinetando meu coração. Ver a inquietude do médico já sabendo a notícia ruim e visível de que já não tinha mais vida ali foi torturante. Eu fiquei firme por fora, mas por dentro existia um rolo compressor destruindo tudo sem piedade por pura incapacidade de assimilar aquilo naquele momento. Me preocupei com a Alê, apertei a mão dela, e enquanto o médico repetia explicações que eu particularmente não queria saber pois não iam mudar o resultado final, falei de forma sólida: “Não era para ser agora e está tudo bem. Vamos rezar por esse pequeno lampejo de vida que Deus poupou e vamos em frente.”
Até agora não consegui chorar mais do que algumas lágrimas escorrendo no meu rosto e isso é uma vantagem que a Alessandra tem: ela coloca para fora e desaba, mas passa. Eu não consigo e nesse momento o que me resta é só a mais pura e intensa tristeza.
Deus, cuida da alma desse pequeno que nunca viu o mundo. Diz pra ele que ele veio de luz e voltou para ela pq foi melhor assim, e que nós o amamos muito.
Descanse em paz, meu filho.