Dopamina safada
Me desliguei do meu Instagram pessoal depois de muito ensaiar. O motivo? Precisava me ver livre do scroll infinito de dopamina barata.
Pensando friamente, também cansei de ver pessoas construindo personas que não condizem com a realidade — modulando seus registros conforme a conveniência do momento. Isso não costumava me afetar, mas entrei numa pira: comecei a enxergar como a maior parte das pessoas usa as redes sociais para enganar, exibindo atributos que não têm ou que representam muito pouco de quem realmente são.
Nesse mundo de sorrisos, paraísos, amizades perfeitas e momentos editados, não há espaço para tristeza, confusão, fraqueza ou o simples ato de pedir ajuda. É um ambiente essencialmente tóxico (palavrinha da moda, mas útil) onde as pessoas moldam suas vidas para vender uma imagem — não para viver de fato.
Antes de me posicionar com crítica, resolvi olhar para as minhas próprias redes. Sempre vi o espaço online como um lugar para contar histórias, me posicionar e, acima de tudo, ser fiel a quem eu sou. Me dou o direito de acertar e errar, mas nunca escondi meus erros. Não deleto conteúdo antigo, não reinvento narrativa, não apago rastros. Raramente bloqueio alguém — só em casos extremos, por autopreservação. Se eu soubesse que não conseguiria me respeitar tendo acesso a um perfil, o bloqueio vira disciplina.
Desde que reduzi o consumo desse tipo de informação, minha vida melhorou visivelmente. Minha eficiência e disposição no mínimo dobraram. Tenho focado mais nos problemas do mundo real — que não são poucos — e tenho lidado com eles com mais boa vontade. Estou menos estressado, mais presente para meus amigos e para quem importa.
Não estou demonizando as redes. Só entendi que, pra mim, não dá. Eu não funciono direito com esse acesso fácil e constante. E mesmo que os “reis do confete” me incomodem profundamente, encaro esse incômodo mais como uma observação crítica do que como uma cruzada contra o digital.
Ainda mantenho meu perfil de Shuai Jiao — o conteúdo é segmentado, técnico e delicioso de consumir no pré-treino. É o mesmo Instagram, mas ver projeções e exercícios funcionais me parece bem menos vergonhoso do que ver gente lotada de filtro tentando parecer mais bonita.
Pode soar incoerente. E talvez seja. Mas um grande foda-se pra isso. A vida é minha, e eu convivo com as incoerências que escolho.
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